Continuamos aqui a fábula do empreendimento, que tem como objetivo demonstrar o processo do empreendedor comum para o inteligente. Escrito por Jorge Brognoli, consultor em MI. Veja aqui a continuação dessa história e tire suas próprias conclusões sobre como agir para se tornar um gestor inteligente.
PLANO DE VÔO
O plano de voo advém do uso de uma Metáfora, que é a figura de palavra em que um termo substitui outro, dada a relação de semelhança entre os elementos que designamos como empresa e avião, empreendedor e piloto. Essa semelhança é resultado da imaginação, da subjetividade da metáfora que criamos, podendo também ser entendida como uma comparação, em que o conectivo comparativo não está expresso, mas subentendido.
Para muita gente, um empreendimento é, ainda hoje, uma aventura. Muitos confessam, com toda sinceridade, que estão em um empreendimento com medo e os que não fazem mostram sinais de medo das turbulências que podem ocorrer e podem, talvez, estar perdendo a oportunidade de suas vidas.
Até nas empresas mais tranquilas há empreendedores com medo e se mantêm em tal nível de tensão que acabam levando ao “stress”, arranjando fontes de preocupação e não conseguindo respirarem aliviados jamais, fechando o tempo por pouco motivo e mantendo toda a empresa num alto nível de tensão. Estes empreendedores, então já empresários, não conseguem ver além de uma densa “névoa”, cujos relâmpagos de uma nuvem tipo cúmulos – nimbus iluminam vez ou outra a rota, sujeito a fortes correntes de ar ascendentes e descendentes.
Um empreendimento, uma organização, uma empresa é como um avião. Tem que ter um plano de voo. Um comandante que faça todas as checagens possíveis (preparação para decolagem) para garantir a viagem dos passageiros (colaboradores). Mesmo quando estamos ainda no aeroporto para embarcar, os pilotos já estão a bordo, entregues a um minucioso trabalho de preparação de voo.
Da mesma forma, o empreendedor, quando senta na sua poltrona, deve ter um sistema de informações gerenciais à sua disposição para checar e preparar a empresa e seus colaboradores, não significando, é lógico, levar trabalho para casa, enquanto os colaboradores estão descansando. A empresa é o avião/aeroporto e o mercado é o céu no qual o mesmo deverá conduzir sua empresa.
Antes de entrar numa zona de turbulência, um comandante toma todas as providências para que a segurança do voo não seja afetada, entre as quais reduzir ou aumentar a potência das turbinas para obter a velocidade ideal de penetração em ar turbulento.
Segundo Pessoa (1991):
“Todos os pilotos têm um reverencial respeito pelos cúmulos – nimbus e dificilmente ousam desafiá-lo penetrando no seu centro, pois embora tenham descoberto os mais geniais e sofisticados equipamentos de vôo e de navegação, o homem é totalmente impotente diante desse simples fenômeno meteorológico que, afinal de contas, não passa de uma porção de vapor de água condensado, mas com correntes de ar e pedras de gelo de tamanho razoável pelas quais aviões pequenos seriam simplesmente destruídos e mesmo os grandes podem pagar um alto preço por sua aventura”.
Assim como algumas pessoas pensam que o melhor dia para voar é quando o céu está limpo e o dia ensolarado, é exatamente ao contrário, pois com dias de chuva fina e intermitente de tempo fechado é que o voo é mais tranquilo, não havendo ascensão das correntes de ar quente.
Nos empreendimentos, um mercado tranquilo, é como um céu claro, parecendo sem desafios a vencer, podendo, no entanto, apresentar maior risco que um mercado com tempo fechado, cheio de dúvidas e incertezas, pois obrigará a compreender a tarefa que se tem à frente, exigindo um esforço de inovação incomum, onde a pressão, necessidade, e até mesmo adversidade traz o medo da perda que poderá se revelar mais poderoso que a esperança de ganhar em tempo de bonança.
“Cair no Vácuo” é a expressão que se costuma utilizar para quedas que as aeronaves experimentam devido à existência de fortes correntes ascendentes e descendentes, quer dizer, “turbulência a céu claro”, logo, um empreendimento também poderia “cair no vácuo” do mercado, mesmo estável, se não souber aproveitar e localizar as correntes mais favoráveis para prolongar sua permanência e ganhar ascensão no mesmo.
Como há aeronaves de diversos tamanhos, também assim são os empreendimentos. Os pilotos de planadores procuram por regiões onde há concentração de urubus planando porque é sinal de corrente térmica, servindo-se dela para prolongar sua permanência no ar ou ganhar altitude. Os empreendedores devem procurar por essas correntes no mercado, devendo desenvolver a capacidade de localizar estas oportunidades, se for o caso, copiar outras (benchmarking), transformando-se pela criatividade e inovação e tornando o seu local aquele aonde todas vão querer estar.
Um avião tem eixos em torno dos quais ele se move que são: o longitudinal, vertical e lateral. Para poder fazer manobras e garantir a estabilização nestes eixos, as aeronaves têm as partes fixas, como as asas e partes móveis como os “ailerons” e “spoilers”. O elemento que move os ailerons é o manche que pode ter a forma de um volante, um guidom de bicicleta e nos mais modernos uma manopla ao alcance da mão esquerda ou alavancas como nos militares.
O que importa é que, seja qual o tipo de avião, haverá um manche que estará ao alcance de um piloto para controlar as forças tração, sustentação, resistência e peso que atuam sobre uma aeronave em voo e garantir a segurança dos passageiros, da tripulação e sua própria. Toda ação é feita com extrema delicadeza, o que foi descrito por Antoine de Saint-Exupéry Apud Pessoa (1991), no livro “Terra de Homens” se referindo a um hidroavião, mas se aplica a todos:
“Quando os motores começam a trabalhar, quando o avião já sulca o mar, seu casco soa como um gongo ao choque das marolas e o piloto sente esse trabalho no tremor de seus rins. Sente que o hidroavião, segundo por segundo, à medida que vai ganhando velocidade, vai se enchendo de poder. Sente preparar-se naquelas quinze toneladas de matéria, a maturidade que permite o vôo. O piloto firma bem as mãos no comando e, pouco a pouco, em suas palmas cerradas, recebe aquele poder como um dom. Os órgãos de metal dos comandos, à medida que lhe entregam esse dom, se fazem mensageiro de sua potência. Quando ela está madura, o piloto separa o avião das águas e o eleva no ar com um gesto mais leve que o colher de uma flor”.
Quando o empreendimento começa a entrar em operação, o empreendedor também sente toda a vibração e, na medida em que vai ganhando corpo, também vai se enchendo de poder dizendo – eu tenho um negócio. Deverá ter as mãos firmes no comando para elevar o empreendimento e poder voar no mercado.
Qualquer empreendimento, basicamente também tem eixos em torno dos quais ele se move e interage como, produção, concorrência, fornecedores e consumidores. O empreendedor, como um piloto, tem o manche nas mãos, e poderá conduzir a empresa suavemente ou com solavancos, dependendo de sua capacidade e o desenvolvimento dela para garantir a continuidade de um vôo orientado para o mercado, garantindo a segurança dos colaboradores, clientes e a sua própria.
Utilizando a analogia do avião, vencer as turbulências significa manter-se no mercado em uma era de incertezas sem precedentes e um caos mercadológico, onde segundo Tom Peters (1989) não há a excelência, apenas aperfeiçoamento e mudanças constantes, valorizando a impermanência, prosperando neste mesmo caos. Diz não haver empresas excelentes, propondo uma mudança no velho ditado “se não está quebrado, então não concerte”, para, “se não está quebrado, então você não olhou direito”, e que se deve concertar de qualquer modo, pois nenhuma empresa (empreendimento) está segura, ou como diz Kao (1997), “um mundo de negócios repletos de liberdades e necessidades criativas não é um nirvana de paz e serenidade”.
Um avião de pequeno porte pode voar em permanente contato com o solo, dispensado sistemas de navegação mais complexos, no entanto, o mesmo não acontece com as grandes aeronaves de voos internacionais que necessitam de uma infinidade de instrumentos de alta tecnologia, através dos quais o piloto pode se orientar e passar a ver a rota. Segundo Brasil et all (1995), “dentro do mesmo raciocínio, podemos observar, ainda, que muitos pilotos experimentados em certo tipo de avião não conseguem, sem treinamentos especiais (hoje realizados em simuladores de vôo), passar para novos tipos. O fator humano entra em jogo”. Afirmando que fato semelhante acontece com as empresas, pois os empreendedores que as dirigem passam a ter necessidade de um mapeamento de sua realidade, que possibilite atingir as metas, à medida que ficam mais complexas.
Tais complexidades no bojo das mudanças são vivenciadas no mundo econômico, o que está por detrás, certamente, do desaparecimento precoce de muitas organizações que se viram sem um mapa, uma rota segura, devido a não estarem adaptadas aos novos tempos, no entanto, há um percentual de sobreviventes, que em face de sua adaptação, passam a aproveitar novas oportunidades de expansão na dimensão dos negócios.
A aceleração do progresso econômico nos setores mais desenvolvidos da humanidade decorre, em grande parte, do advento das tecnologias da informação e comunicação (TIC), segundo Cardoso Jr.(2005), “carreando de inovações tecnológicas e de mudanças nas práticas gerenciais, permeado de incertezas para os tomadores de decisão, tornando propício o aprofundamento dos estudos sobre implementação da Inteligência Competitiva nas organizações empresariais”, o que seria tremendamente facilitado se tal estudo pudesse ser adquirido e implementado nos primeiros passos de um empreendimento, pois se incorporaria naturalmente ao sistema.